quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Django Livre (Django Unchained) - 2012


23/01/2013 - 6
Nota: 9.5 / 8.7 (IMDB)
Formato: Cinema

Direção: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx (Django), Leonardo DiCaprio (Calvin Candie), Christoph Waltz (Dr. King Schultz), Kerry Washington (Broomhilda), Jonah Hill, Samuel L. Jackson (Stephen), Zoe Bell (Tracker Peg), Tom Savini (Tracker Chaney), Don Johnson (Spencer Gordon Bennet), Michael Bacall (Smitty Bacall), Dennis Christopher (Leonide Moguy)

Crítica:
Quentin Tarantino é um dos melhores diretores da nova geração, apesar de pequena, sua filmografia é recheada de bons filmes. Alguns deles pegaram o conceito de “clássico”, e são lembrados em todas as listas de melhores filmes de todos os tempos. Pulp Fiction é um deles, e provavelmente o mais famoso.

Tarantino coloca em seus filmes a alma do cinema, eles tem tudo aquilo que queremos: entretenimento, adrenalina, suspense, alegria, tristeza, ação e sua ironia à violência, sem ligar para o que vão pensar ou falar de seu filme. Isso se aplica em filmes de gêneros bem diferentes como: guerra, drama, aventura e agora faroeste. E ainda consegue brincar com os espectadores colocando pequenas referências, para alguns, ligações, entre seus filmes. Basta assistir o curta Tarantino's Mind estrelado pelos atores brasileiros, Seu Jorge e Selton Mello.

Para ele, cinema tem que ser cinema, se não, é vida real. Sempre vou assistir a seus filmes, em qualquer situação. Pulp Fiction, por exemplo, vi oito vezes.


Django Livre conta a história sobre a jornada do ex-escravo Django (Jamie Foxx) ao lado do caçador de recompensas King Schultz (Christopher Waltz). Eles se juntam para resgatar a mulher de Django, Broomhilda (Kerry Washington), que agora é escrava do vilão e fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).

Nesse filme Tarantino se superou, todas as suas principais características foram colocadas e intensificadas: os longos diálogos, as reviravoltas e muito sangue. Uma homenagem aos westerns spaghetti, com várias referências, desde os créditos inicias até o duelo final. Um faroeste atual, mas que conta com as tradicionais cenas de tensão antes dos duelos, e diferentemente dos velhos faroestes, muitos deles não acontecem, que ao mesmo tempo é frustrante e interessante.

Podemos dividir o filme em três grandes partes. A primeira metade mostra como Django e Dr. Schultz se conhecem e se juntam para uma missão específica. A segunda metade segue a evolução de Django, como pessoa e como caçador de recompensas, tornando-se exímio atirador. A terceira metade conclui com a vingança de Django e resgate de sua esposa.

Christoph Waltz fez um papel muito parecido com o realizado em Bastardos Inglórios. Dr. King Schultz é um homem frio, mas ao mesmo tempo, sensível e inteligente. Gosta de dialogar, tudo que fala é bem pensado, mas suas atitudes podem ser inesperadas. Por isso, é um personagem metódico, correto e tem sua própria conduta ética, dentro dessas, tratar os negros como brancos.

Jamie Foxx faz papel do escravo Django, acostumado a ser humilhado por seus donos, vê em Dr. King Schultz a oportunidade de vingança. Interessante em sua interpretação, junto com as características que o personagem exigiu, foi o crescimento motivacional e de confiança que Django passa. Começa como um homem tímido e sem palavras, e aos poucos acompanhamos seu crescimento intelectual, determinação para vingança e autoconfiança. Isso nos faz envolver emocionalmente com o personagem, e passamos a concordar com suas atitudes, mesmo que, às vezes, sejam erradas. A cena chocante entre alguns cães e um negro exemplifica isso.

Leonardo DiCaprio é uma ator sensacional, praticamente acompanhei toda sua carreira, e hoje o considero um dos melhores atores, versátil e convincente, o que é mais importante. Nesse, ele faz o papel de vilão, Calvin Candie, dono da fazenda onde possui vários escravos, inclusive a esposa de Django. Sua participação começa na terceira metade do filme, quando iniciamos a conclusão da história. DiCaprio mostra um personagem mal, com desprezo pelos negros, que era comum na época, trata-os com se fossem, ou piores que animais. A cena da luta entre dois negros na sala de sua mansão demonstra bem isso.


Samuel L. Jackson, como Stephen, rouba a cena, sua participação não é tão grande, mas essencial para a trama. Ele faz um velho negro, servente há várias gerações dos Candie, por isso se tornou um negro com atitudes de branco. Percebemos que para sobreviver, tanto tempo, como escravo, ele precisou ser confiável a seus patrões brancos, e para isso, tratava todos os negros com se ele fosse branco. Os tremores e o mancar com sua bengala foi algo que nos faz acreditar na sua velhice e nos anos em que, possivelmente, sofreu como escravo.

[SPOILERS...] As duas primeiras metades da história também foram para nos contextualizar sobre a época em que se passa a história, e nos mostrar como os negros eram tratados. Apesar da história da escravidão ser extremamente triste e revoltante, várias momentos são feitos com humor negro, nos fazendo chorar e rir na mesma cena. Tarantino soube dosar muito bem o drama e a comédia, as lágrimas e o sorriso. Exemplo disso é a paródia que fez com a aparição de homens brancos encapuzados, referindo-se à origem da Ku Klux Klan. Esse humor negro e a comédia feita com um tema tão sério podem levar alguns a criticar negativamente o filme, mas como disse no início, essa, com certeza, não é a intenção de Quentin. A diversão cinematográfica é o foco, além de ser uma forma de prestar homenagem às pessoas que viveram esse drama.


Mas o ponto alto do filme está na terceira metade, quando juntam-se os principais personagens, e mostra como bons atores fazem a diferença. Waltz, DiCaprio e Foxx foram impecáveis, e ainda contaram com Jackson para chegar quase à perfeição. Os longos diálogos da negociação para a suposta compra do lutador negro, e resgate da escrava e esposa de Django, foi algo inexplicável. Nos deixa concentrado e tenso, realmente entramos emocionalmente na história, tudo acontece lentamente,  vamos nos envolvendo até que no clímax, explodimos juntos com o tiroteio sanguinário, vibrando e torcendo para que Django acabe com todos. Tudo indicava que seria o fim do filme, mas esse não é o último combate, se acabasse nesse momento não ficaria ruim, mas assim, não seria um filme de Quentin Tarantino, ainda tem o “grand finale”, e é claro, bem explosivo. [... FIM SPOILERS]

Acho que Tarantino conseguiu criar mais um clássico. Clássico é um conceito difícil de explicar, mas com certeza, dentro desse conceito, está o de filme excelente e que vai ser lembrado para sempre. São raros os que nascem conceituados dessa forma, e para mim, esse faz parte das exceções. Obrigado Quentin, por me fazer apaixonar cada vez mais pelo cinema.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo Blog. Muito boas as suas sugestões e críticas. Já está nos meus favoritos...

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  2. Assisti hoje e dou a mesma nota!

    Tentarei ver novamente o quanto antes.

    Simplesmente não tenho nenhuma crítica negativa a fazer. Fantásico!!

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