domingo, 9 de fevereiro de 2014

Questão de Tempo (About Time) - 2013


13/01/2014
Nota: 9.0 / 7.9 (IMDB)
Formato: HD

Direção: Richard Curtis
Roteiro: Richard Curtis
Elenco: Domhnall Gleeson (Tim Lake), Rachel McAdams (Mary), Bill Nighy (James Lake, Tim's father), Lydia Wilson (Kit Kat, Tim's sister), Lindsay Duncan (Mary Lake, Tim's mother), Tom Hollander (Harry), Vanessa Kirby (Joanna), Margot Robbie (Charlotte), Tom Hughes (Jimmy), Catherine Steadman (Tina), Matt Butcher (Courtroom Observer), Lisa Eichhorn (Mary's Mum), Richard Cordery (Uncle Desmond), Will Merrick (Jay), Joshua McGuire (Rory), Jon Boden and Sam Sweeney (Buskers), Richard Griffiths (Sir Tom), Richard E. Grant (Actor), Matthew C Martino (Commuter)

Crítica:
Depois de Simplesmente Amor (Love Actually) - 2003, Richard Curtis ganhou créditos infinitos comigo. Sua carreira começou com várias comédias-românticas bem acima do padrão estadunidense, mas ainda assim, com roteiros tradicionais para o gênero: homem ou mulher que vive uma vida ruim, quando acha o seu amor perfeito, vem os conflitos e brigas por vários motivos, logo depois, o arrependimento e o reatar, para no final, viverem felizes para sempre. Normalmente as comédias inglesas são infinitamente melhores que as hollywoodianas, mas eles precisam vender seus filmes, e muitas vezes caem na mesmice. Em Simplesmente Amor, Curtis, conseguiu sair desse padrão e criou um dos melhores filmes romance que assisti. Seis anos depois, mudando um pouco de gênero, fez o excelente Piratas do Rock (The Boat That Rocked) - 2009, ganhou mais uns bons créditos, e agora, esse sensacional Questão de Tempo. Importante dizer que seus melhores filmes, são, justamente, os que dirigiu. Coincidência ou não, é um diferencial. Hoje assisto qualquer filme que ele dirigir.

Além de Richard Curtis, o roteiro tem algo que chamou minha atenção: viagem no tempo. Qualquer filme que trabalhe bem o tema atrai meu olhar. Numa primeira impressão fez-me lembrar do Te Amarei Para Sempre (The Time Traveler's Wife) - 2009, que trata dos mesmos temas e gênero, mais dramático e menos romântico, mas igualmente excelente. E coincidentemente, com Rachel McAdams como protagonista feminina do casal.


[SPOILERS...] Questão de Tempo começa nos apresentando Tim, um jovem inglês, que em sua casa, participa da tradicional festa familiar de virada de ano junto com seus pais, sua irmã Kit Kat e o seu tio D, que parece sofrer de algum tipo de esquizofrenia. É então que o pai de Tim, James Lake, resolve lhe contar o segredo da família. Com simplicidade, ele informa-o que os homens da família têm a capacidade de viajar no tempo, mas com restrições, a viagem acontece apenas para o passado. Após duvidar e experimentar, Tim passa tentar resolver seus pequenos problemas pessoais, o principal deles: arrumar uma namorada.

Interessante como o roteiro faz distinção entre felicidade e ganância logo de início. Tim escuta o histórico familiar de seu pai, dizendo que vários tentaram ficar ricos, outros trapacearam e viveram na luxúria, mas nenhum deles foi feliz de verdade. O principal conselho era buscar de seus sonhos, e ser feliz ao conquistá-los.

Assim, Tim parte para Londres. Vai estudar na faculdade de direito e morar com Harry, um produtor de teatro amigo do seu pai. Lá conhece Mary, numa das melhores cenas do filme. Ele e um amigo vão a um bar de encontros anônimos, ou algo do gênero. O bar recebe as pessoas num lugar escuro, sem visibilidade nenhuma, um atendente os encaminha para uma mesa onde estão duas mulheres, ali a conversa se desenrola. O mais interessante é que a tela para os espectadores também fica preta, e acompanhamos os diálogos super concentrados. O sentimento romântico é explorado ao máximo, somente ao sair os dois se conhecem visualmente. Tim apaixona instantaneamente por Mary.

Chegando a casa encontra Harry arrasado, a estréia de sua peça foi um fracasso, pois o ator principal esqueceu as falas. Nesse momento é que Tim passa a entender melhor os riscos que é viajar e alterar o passado. Para ajudar Harry, ele volta momentos antes da peça começar e sugere ao ator revisar suas falas, tudo funciona bem e a peça é um sucesso, mas como a peça e seu encontro com Mary aconteceram no mesmo momento, Mary não o conhece mais.

Agora Tim precisará encontrar Mary e conquistá-la novamente. As sequências até conquistá-la novamente é algo excepcional, romântico, cômico e verdadeiro. Muito bem desenvolvido. Algo diferente do que costumamos ver no cinema. E são essas cenas que os protagonistas mostram como atuações perfeitas fazem o filme ser diferenciado.  Domhnall Gleeson, que interpreta Tim, começa o filme razoável, parecendo ser uma interpretação adolescente demais para o personagem. Mas vemos que não, a insistência de Tim, com criatividade, para conquistar Mary, revela um grande ator. Percebemos em seus olhos e suas expressões, o quão está apaixonado. Rachel McAdams, só confirma a grande a atriz que é. O seu pouco caso com um cara qualquer que tenta conquistá-la, até o momento em que se entrega à conquista, apenas por algumas palavras sobre Kate Moss, é de uma veracidade apaixonante. Atuação impecável.


Com os dois juntos, acompanhamos mais uma cena sensacional que acontece dentro da estão do metrô. Para demonstrar o amadurecimento dos dois como casal, vemos a rotina diária deles, pegando o metrô para trabalhar, indo para festas, com mudanças de roupas para nos contextualizar da estação do ano. Tudo isso acompanhado pela música How Long Will I Love You, da banda escocesa, The Waterboys, executada por: Jon Boden, Sam Sweeney e Ben Coleman, como se fossem de uma banda que toca nas estações de metrô.
No casamento, entre idas e vindas ao passado, Tim e seu Pai proporcionam uma emocionante sequências, na escolha de quem fará o discurso e seu pai procurando o discurso perfeito para o momento.

Agora acompanhamos a vida do casal, que é bem semelhante a de qualquer outro. Passando pelos mesmos problemas e dificuldades. Até que os filhos vem, e começamos a perceber que Tim está conseguindo ser feliz, sem precisar utilizar seus "poderes" para fins gananciosos. E a principal mensagem do filme começa a ser passada. A parte mais dramática acontece quando ele descobre mais uma regra da viagem no tempo. Sua irmã problemática acaba sofrendo um acidente de carro quase fatal, assim, Tim volta ao passado para mudar os fatos que culminaram no acidente. Quando volta e entra em casa, sua filha não existe mais, se transformou num filho. Imediatamente vai questionar seu pai, que lhe explica as regras: o nascimento de filhos é um marco na viagem no tempo, pois todas as vezes que voltar para antes do seu nascimento, um filho diferente vai ter. Assim, Tim desiste de evitar o acidente da irmã, passa a apoiá-la na recuperação, física e psicológica.

Interessante que as regras para viagem no tempo são simples e diretas, sem precisar de maiores explicações. O porquê não é necessário, é assim porque é.


Partimos para o terceiro ato. Lake pai está bastante doente e confidencia a Tim uma última dica, um jeito de viver seus dias com mais prazer e tranquilidade, basta vivê-lo duas vezes. Uma vez naturalmente, e outra, voltando no início do dia, sem alterar nada, vivenciar os acontecimentos já sabendo o que irá acontecer, apenas sentindo o quão prazeroso é a vida, mesmo em momentos tristes. Seu pai vem a falecer, mas Tim não sente tanto, pois ainda tem suas viagens para matar saudades. Mary acaba engravidando pela terceira vez, isso implica que Tim não poderá mais ver seu pai. E após nove meses faz uma última viagem para despedir-se.

Ao fim, a crítica do filme à nossa sociedade, vem nas palavras de Tim, ao perceber que não era preciso mais viver os dias duas vezes, bastava sempre vivê-lo com se fosse a segunda vez. E essa é a principal mensagem do filme: "Carpe diem". [FIM SPOILERS]

Bill Nighy, que faz o pai de Tim, tem uma participação discreta, mas todas as vezes que aparece mostra sua força como ator. Desenvolve um pai com perfil exemplar, aquele pai que todos desejam, participativo, amigo e presente em todos os momentos.

Destaque também para trilha sonora, que faz cada cena ser mais impactante, e sem dúvida vale escutá-la.

Curtis acertou mais uma vez, faz um tema complicado, ser simples, uma história emocionante do início ao fim. É um filme que agradará a todos, pois são lições que gostaríamos de trazer para nossas vidas. Assistirei novamente com certeza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário